Como ficou escrito no meu convite ao cafézinho, dificilmente eu deixaria de treinar depois daquela propaganda toda. Vai Bocão… Mas depois do quentinho do café no corpo e tudo arrumado, fechei a porta de casa às 05:30 hs. Chovia levinho, mas 16 passos depois, quando o botei a chave no Portão da Rua: Desabou o mundo em água, parecia de balde. Se eu estivesse de terno indo trabalhar só restaria chorar. Naquele momento também seria tarde para voltar, caso eu estivesse com medo de resfriado coisa e tal.

Deste modo, saí com o temporal mesmo. Mas direi sem exager muito. Com o corpo frio, no momento em que tudo que se espera são os primeiros vinte minutos de treino necessários para o completo aquecimento do corpo e, por consequência, prazer na atividade: é sacanagem. Pô! Justo nesse momento me vem um temporal?! Moro no final da rua, onde termina também uma ladeira. Tempestade com enxurrada até a canela, quando além de frio não tinha sequer sentido direito o peso da mochila seca com terno, sapato, apetrechos outros e um livro de 1100 páginas (não digo qual é porque é técnico, quando eu comprar um livro mesmo, direi). Ainda tinha uma novidade que eu acabara de criar: peguei a pochetezinha de hidratação eu a usei para ligar/prender as duas alças da mochila (de modo não ficarem escorregando do ombro). Da forma como estava, o celular, chaves e os dois saquinhos com o meu café da manha (num fibra, noutro linhaça com ração humana), estavam no meu peito não muito longe da boca, se no lugar disso tudo tivesse uma garrafinha (e é pra isso que foi feita a pochete), daria para tomar a água de canudinho (Taí, outra idéia inusitada cara pálida).

Engraçada foi a expressão no rosto de um vizinho, atraído à garagem para dar aquela espiada básica na tempestade. Quando ele me viu, fechando o portão e caminhando normalmente, a expressão era de quem realmente não estava acreditando no que os olhos dele viam. Oitenta metros depois já estava na Mutinga. Sentindo-me gelado e não enchergando nada, comecei a trotar. Só em dois pontos de ônibus tinha gente, sob o Telhadinho, de pé no banco de cimento, o que não ajudava muito, porque a chuva vinha de lado, aliás, de todos eles. Engraçado como é a sensação que temos sobre as coisas que nos acontecem, se eu não tivesse com o celular ali, também dentro do saquinho para congelados (assim como como todo o resto), eu diria que aquele temporal teria durado meia hora, mas foram exatos 7 minutos, nem um segundo a mais. Depois disso era chuva forte. Forte, mas chuva. Temporal é horrível. Não se vê o que poderá haver debaixo da correnteza (medo de um buraço, pedra), fora a sonoplastia. Esta é única, típica mesmo de filme de terror antigo.

Sob a chuva então, segui trotando, o que me causava muito orgulho, porque encharcada a mochila também “parecia” pesar dezenas de toneladas.

Trinta minutos depois de sair do portão, contando vom o choro que engoli, as respirações fundas e a caminhada inicial até a Mutinga. Agora, é que entra o aprendizado do treino.

Os trinta minutos que duraram a minha “travessia asfalquática”, foi o tempo necessário para o completo aquecimento. Explicando melhor, quando o meu corpo ficou pronto para a atividade, ela acabou. Nesta hora senti uma vontade absurda de deixar a mochila com o porteiro do prédio da D. Lola e me deliciar na chuva, já fina, por mais 30/40 minutos. Foi aí que lembrei do Alecão e do Wallace, do alerta e conselho deles: devagar e sempre. Lembrei, ponderei e sentindo uma pontada no peito, parei efetivamente o treino com aqueles trinta minutos. Essa foi a hora mais dificil da madrugada toda, muito pior do que levandar as quatro, do que a inóspita tempestade. Tudo isso foi nada se devidamente comparados.

Depois disso fiquei imaginando como deve ser dificil para um atleta desistir no meio de uma prova em prol de um motivo/objetivo maior.

Missão cumprida, COM LOUVOR.

DESAFIO – PARTE 4/6

Mais uma vez Mari e Henrique dormiram na D. Lola. Mas fui com o carro pra casa. O que significava que tinha de treinar antes ir levar o carro na hora certa (06:20).

Acordei com o celular tocando as quatro horas. Mas só levantei 10 minutos depois, com muita vontade de ficar dormindo mais, a noite não tinha sido como anterior (essa sim, poucas horas, mas perfeitas), nesta tive uma recaída na apnéia, eu acho, porque eu acordei assustado às 02:30 hs., sentado no sofá. Apaguei ali sem perceber. Meu sono se dividiu em 3:30hs de sofá (sentado) e 01:30hs de cama. Mas até aí tudo bem, afinal, Sexta é mais fácil [socorro que eu não sei lincar].

Acontece que depois da primeira e usual esvaziada no – alguém aí sabe um apelido para isso – intestino, algo muito desagradável aconteceu. A primeira vez na boa, a segunda, bem, normal já que tinha jantado (tarde, por sinal) além da conta, mas a partir da terceira vez começou a incomodar, até que, enfim, era uma verdadeira virose (o melhor eufemismo que eu poderia encontrar). Diante de tal virose, causada por excesso de arroz integral de alho crú moido, o tempo foi passando e com ele a chance de treinar.

Mas em tempo tive a idéia de levar no carro o uniforme de trabalho e ir com a de corrida para ficar rodando em volta do prédio da D. Lola. A idéia surgiu por duas vantagens, a primeira era de treinar no plano (menor chance para a Senhora Lesão) e de quebra ainda treinar o psicológico em treino de ramster de laboratório; e a segunda e indiscutivelmente mais premente era a vantagem de ficar próximo a um banheiro.

Este treino durou exatos trinta minutos. Eu estava me sentindo pesado com os 5 copos de água que eu havia tomado para equilibrar a perda com o desarranjo, mas de um modo geral, bem. Quando parei que percebi que, embora feliz, sentia uma leve fraqueza, que anunciava que o melhor a fazer era não dar nenhum passo a mais sequer com os tênis de corrida.

Desafio cumprido à risca até aqui. Não fugi do cronograma de treinar só de manhã e por tempo certo (curto) para chegar na ora tão desejada assiduidade. Mas faltam dois dias. – Ah lá Claudião, se manca hein!!!. Serão os dois últimos e mais tranquilos dias. Não terá perdão, já vou avisando.