Vivi no sítio dos meus avós até os 14 anos de idade. Sempre fui gordo, desde criancinha. Minha avó chamava de Polenta Azeda quem fosse mole para trabalhar ou fazer qualquer afazer. Não é de se estranhar, portanto, que eu tenha sido tachado com este simpático adjetivo várias vezes durante esse período.

Neste sábado eu fiz o meu primeiro treino na USP, desde que retornei às corridas. Já tinha treinado lá algumas vezes em 2003 e bem pouquíssimas em 2007. Finalmente eu consegui ir a um treino com o Thiago. Ele me convidava desde janeiro. Cheguei lá esbaforido às 05:45 e já era aguardado por ele e o Paulo Motta. Eles treinariam 32km. O meu plano era 20km ou três horas de treino. No fim não foi nem um coisa nem outra.

Coitado do Paulo Motta, azucrinei o coitado o treino todo, querendo saber tudo sobre ultramaratonas. Muito engraçado ele pedindo para eu reduzir, que ainda era cedo e que o treino iria longe. Deve ter feito isto umas 100 vezes.

Segui por 16 km dentro de minha zona de conforto, justo a partir do momento em que tudo ficaria mais difícil para mim, era chegada a hora do Thiago e Paulo apertar o rítmo para 06MIn30s por km, vinhamos até ali a 07MIn30s, um pouco mais. Pensei: é o fim. E só não foi mesmo porque eles improvisavam para que eu não desistisse de prosseguir.

Primeiro o Paulo acelerou antes de fazer um pitstop, o que faz parte do treinamento dele, parar um tempinho e prosseguir. Eu segui na frente como conseguia eles então me ultrapassavam para em seguida sairem do caminho para voltar a ele e encontrar-me novamente para um “não pare não”.

Fui bem até que o Paulo me informou que já tinha corrido 20,5Km. Eu fiquei eufórico com o meu recorde de distância. Mas a euforia veio acompanhada de muita ansiedade para terminar os 4km restantes para o ponto de partida e término do treino.

Talvez teria sido melhor não ter sabido a distância naquela altura. A sensação de metra ultrapassada fez com que as pernas ficassem pesadas. Longe da vista dos meus então algozes, eu caminhei um tanto, depois outro, voltei a trotar até que eles me alcançaram na avenida da raia olímpica.

Eu queria parar, andava uns passos, e seguia de novo. Eles já estavam correndo dando voltinhas ao meu redor para não me perderem de vista. Os últimos 800 metros foram um martírio eu não queria mais correr. Mas quando vi a placa de psicologia eu dei um sprint para chegar no final do meu treino com 24km. Peguei meus pertences na moto do Thiago, agradeci, despedi-me e fui embora. Com as pernas pesadas e bastante cansado, mas muito feliz. Orgulhoso e satisfeito. O treino acompanho é muito bom. Com o Thiago e o Paulo posso aprender a lidar melhor com a ansiedade de chegar logo no marco traçado e curtir a distância e até passar dela.

Hoje não corri mas pensei bastante sobre o meu estado após este treino. Depois de uma semana de treinos diários e alguns fortes, seguiu-se outra amena, quase sem treino nenhum. Apenas uma caminhada sem graça na terça-feira e uma corrida de uns 3km na quinta. Entendi no treino de ontem que se houver assiduidade nos treinos. Tudo irá bem nos longos. Lição aprendida melhor eu colocá-la em prática. Uma perna na frente da outra. Obrigado Thiago. Obrigado Paulo. Agradeço a paciência e nos vemos em outros treinos.

Em tempo: Já no fim do meu treino passou fazendo ventinho uma triathleta que pareceu familiar ao virar-se para cumprimentar um outro corredor. Perguntei e recebi de volta um sinal de positivo acompanhado de um sorriso. Era a Thelma, do Blog Tripateta. Firme e forte após sua recuperação.