Bombeiro
Bombeiro. A origem da alcunha remonta por certo os tempos em que ele se esmerava na ilustre tarefa de matar a sede dos que torravam os miolos na lida árdua na lavoura de cana, quando ainda trabalhava na “Caprichosa”. Fato é que, como na maioria dos casos, sua origem se perdeu, forjando, porém, um codinome indissociável da figura que nomeia…Pensando bem, nem me lembro do seu verdadeiro nome.
Bombeiro, sujeito de estatura pequena, mas de constituição forte, se não lhe fosse a maldita bronquite diria que era um pequeno touro: pele morena, tórax avantajado, desenvolvido no respirar arfante constante provocado pela moléstia que o persegue pela vida; um bigodão bem aparado, às vezes, acompanhado de um cavanhaque, alinhados dentes brancos completavam o sorriso confiável que sempre lhe estampava a cara, uma calvície oculta sob o chapéu que lhe conferia um certo charme.
Quando me entendi por gente ele já figurava na família; fiel escudeiro do Toninho, na lida no sítio e nas “ba(i)ladas” nos bailes e aventuras que pela manhã os faziam rir maliciosamente, quando rememoravam as peripécias da noite anterior…
Bombeiro era o pião, trabalhava e morava no sítio; dividia seu aposento tosco e precário, arranjado entre arreios, cabrestos e pelegos, com o Toninho seu patrão. Eles dormiam no garpão. Por que Toninho deixava sua cama limpa e macia, no aconchego da casa Dundes? Ele não escondia de ninguém, lá podia prosear com o amigo e chegar a qualquer hora das aventuras amorosas nas noites de lua cheia, longe da vigília da ‘Racema. “Êh,Tonim medonho!”, costumava dizer o nosso pequeno herói.
Falava pouco, sorria muito…Paciente, nunca implicou ou ralhou com a molecada que empoleirava na carroça de boi junto com os latões de leite, que ele levava toda manhã pra beira da estrada, pra ser recolhido pelo leiteiro.
Como era bom acompanhar o Bombeiro nos passeios com o Chavante e o Possante, os bois de carro que quando crianças nos divertíamos ao chamar de “Chevete e Passat” (a Adriana que inventou essa…).
Escalávamos também as cercas da mangueira pra observa-lo tirando leite (com aquele banquinho com um pé só atado ao traseiro), vacinando ou alimentando o gado, tarefas rotineiras que aos olhos de criança pareciam tão relevantes.
Lembro-me dele na mesa alva da casa velha da vó, nos raros momentos que jogamos baralho junto com o vô Tonico.Talvez a sua paciência fosse o seu principal atrativo…
Ao menino Cláudio e menino Clau, deixo-lhes a tarefa de continuar o resgate de aventuras mais audaciosas desse ilustre personagem.
A todos que lerem: corrijam, aumentem, critiquem…Isso é só um sopro na brasa…(beijos da Ná)
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