Ainda era de manhãzinha … Em pé no centro da cozinha, vestida com a camisola de Jersey vermelho fluido, aquela que tantas vezes me fantasiou nas brincadeiras de ser mulher, lá estava ela serena diante do meu olhar assustado. Sob seus pés uma poça d’água, que sem demora justificou como a água do café derramada. Era ele quem vinha…
Aquele que me roubaria o ninho, o berço enorme que eu imaginava que só perderia quando meus pés encostassem nas suas grades, aí sim seria a hora de ir para cama de menina…
Não sei bem se eu tinha noção de que naquela barriga morava o ser que me tiraria da proteção do quarto paterno. Creio que não, era ainda muito pequena pra tanto.
“Escorregou feito quiabo”… Nascer lhe fora fácil, restava-lhe ainda sina do viver…
Sem demora veio ao mundo a criaturinha que me disseram irmão. Na tela das lembranças lampejam imagens sem som dos seus primeiros dias, ainda envolto nos panos simples que a mãe costurara.
As primeiras memórias sólidas me trazem o instinto de proteção que logo ele me despertaria:
Num dia, de passeio com a mãe, em visita a um tio muito doente, fiquei duplamente assustada, primeiro por deixá-lo em casa sem mãe e sem irmã, e por último por assistir a miséria (ainda desconhecida) e a pobreza de primos, crianças como eu. Noutro o desespero e indignação de ver uma tia vestindo-lhe a fralda de modo diferente do que fazia habilmente a progenitora. Foram os primeiros sinais de que a pequena “Dadá” também lhe teria o amor de “vaca braba”.
Sua primeira infância foi margeada pela minha segunda; em descompasso, por um período que pareceu longo demais, mas insuficiente pra nos distanciar, seguimos apenas irmãos de brigas, mais do que de brincadeiras.Na nossa infância solitária no sítio, apenas eu podia impingir infantas maldades ao menino sempre sorridente, se alvo de chacota ou de ruindade de outrem era-lhe defensora quase feroz …
Precocemente aprendeu a ser adolescente pra compartilhar comigo as angústias da idade injustiçada… Na nossa primeira mocidade, vazia de companhia, mas repleta de sonhos, inexplicavelmente nosso amor dissimulado aflorou em evidências, tornando-nos cúmplices irrestritos, sem condições…

Amanhã é o aniversário de nascimento desse menino que me ensina a cada dia o exercício do amor incondicional… 


Amei a lembrança da Ana, mas hoje é um dia muito especial: aniversario do querido Claudemir. Parabéns, Clau. (Claudio)


Bem lembrado!!!! Viva o nosso bebê que nasceu de novo!!!! (Ana) 


E viva o Mangão Highlander!!! heeeeeeeeeee! (Alex)