Hoje é dia do cego.

Torçamos para que não demore muito até que eles estejam verdadeiramente inseridos na sociedade.

Se faz oportuna e agradável a lembrança, aqui, de um maravilhoso exemplo deixado há muito tempo por um cordelista:

Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo (1878/1896)..

Cearense da cidade de Crato, que ganhou grande reconhecimento e prestígio com a famosa e arretada Peleja com o Zé Pretinho dos Tucuns.

Um feito e tanto para quem teve que superar, ainda muito novo, tantas desgraças na vida, como bem reflete este lindo e comovente poema que ele fez para mãe dele, chamado “As três lágrimas”:

Eu ainda era pequeno
mas me lembro bem
de ver minha pobre Mãe
em negra viuvez.
Meu pai jazia morto
Estendido em um caixão
Chorei pela primeira vez!

E a pobre minha Mãe
Daquilo estremeceu:
De uma moléstia forte
A minha mãe morreu.
Fiquei coberto de luto
E tudo se desfez
E eu chorei então
Pela segunda vez.

Então, o Deus da Glória,
O mais sublime artista,
Decretou lá do Céu
Perdi a minha vista.
Fiquei na escuridão,
Ceguei com rapidez
E eu chorei então
Pela terceira vez.

Meus prantos se enxugaram.
Das lágrimas que corriam
Chegou-me a poesia
E eu me consolei.
Sem pai, sem mãe, sem Vista,
Meus olhos se apagaram;
Tristonhos se fecharam
E eu nunca mais chorei.

Texto capturado do sítio Jornal da Poesia (Claudio)